As definições empobrecem a vida.
Ensinaram-nos o hábito de limitar as melhores coisas dentro de palavras muito pequenas.
Amor virou relacionamento, vocação virou remuneração, solidão é desespero para
muitos, a pausa é perda de tempo - não é aceitável desacelerar.
Não quero pagar esse preço. Desfaço
meus dicionários para inventar novos sentidos. Conformismo não nos faz esquecer
as dores, o que nos faz esquecer as dores são as novas razões para sorrir. O
tempo não apaga, ele não seria tão cruel.
O tempo ensina a mudar o foco, a olhar as dores com mais doçura, a
transformar o erro no aprendizado, a culpa no perdão libertador. O tempo se faz
amigo ao acariciar nossa memória.
Nós somos ricos porque não nascemos
prontos. Nossa sorte é que sempre algo nos falta e, consequentemente, há sempre
algo a ser descoberto. Perder a capacidade de conviver com nossas urgências é
também perder muito de nós. Porque é essa urgência, às vezes disfarçada de
medo, às vezes de gentileza, que impulsiona a vida.
Nossa sorte é essa incompletude,
nossa sorte é sermos imperfeitos, inacabados. Nossa sorte é que, apesar de
pensarmos tanto, sentimo-nos sempre à mercê de nós mesmos e, com isso,
entendemos que a autodescoberta é eterna, não é finita em si mesma. Quanto mais
vivemos, mais percebemos que é inútil tentar entender tudo. Talvez viver seja
apenas encontrar alguém para compartilhar nosso medo de nunca saber e, assim,
ajudar a justificar a indefinição do outro.
Por isso, sempre me encantei com as
poesias. Para elas, não importam as propriedades físico-químicas dos elementos,
tampouco as definições teológicas, políticas e filosóficas do mundo e das
coisas. A poesia é a liberdade das sensações, a leveza de não pensar, a coragem
de não precisar compreender.
Quando criança, meu pai lia Fernando
Pessoa para mim e era uma chateação não conseguir entender. Ele dizia: - Não se
preocupe em entender, minha filha. O senhor estava certo, pai, não era preciso
entender. Percebi que aprendemos a amar o que nos proporciona encantamento e
não o que racionaliza nossas dúvidas. A ciência é só o oposto da intimidade. A
razão, e não a inocência, é que costuma andar de mãos dadas com a dureza dos
dias.
Não quero as definições que
empobrecem a vida...