segunda-feira, 12 de novembro de 2012

A poesia da vida

Sentir a poesia da vida não é uma escolha. É uma marca que carregamos (quando não somos carregados). Triste é quando tentamos carregar a poesia, modelando as palavras como escultores, prevendo as rimas, contando as sílabas, lapidando o verso. As palavras trancadas, planejadas, trabalhadas para os olhos dos outros, para o encontro dos aplausos, para a escravidão da disciplina. Quando somos carregados, a poesia passa a ser dos nossos sentidos e não da nossa ciência: as palavras rasgam, sangram, afrontam, dormem na nossa confusão, movimentam nossa calmaria, fazem festa na nossa solidão. E, de repente, percebemos que a poesia da vida está longe dos nossos corriqueiros aprofundamentos, da nossa mania de investigar e justificar os sentimentos e as coisas, da nossa eterna procura pelos mistérios de cada momento. A verdadeira poesia, às vezes, é tão somente essa deliciosa ausência de sentido do escorrer do tempo, da borboleta que passa, do rio que flui, do vento que corre, da boca que beija, da mão que toca, da palavra que não cala... sem precisar entender... sem pretender explicar nada...

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