Não
quero mais ter tanta pressa para ganhar. Dispenso as correntes da necessidade
de chegar sempre na frente. A partir de hoje, apresso-me para perder.
Não quero a assustadora limitação da
dependência – quero aprender a precisar cada vez menos. Já não quero pagar
excesso na vida de bagagem desnecessária, não quero colecionar sonhos
frustrados, não quero ser lembrada por falta de coragem, não serei aquela que
rejeitou as asas por medo da queda.
Quero perder tudo que usei para alimentar
meu ego, meu egoísmo, minhas vaidades, meus preconceitos. Perder o que impede
meu encontro mais profundo, íntimo e instigante com a humildade e toda a
sabedoria das coisas simples. Perder tudo que modifica o fluxo natural dos
sentimentos – de dentro para fora – de modo que jamais as influências externas
fragilizem a construção dos meus princípios.
Perder, sobretudo, a vontade de ganhar
sempre e a qualquer custo, entendendo que as vitórias virão naturalmente como
uma resposta do destino para o meu esforço e merecimento e que, se não for
assim, que eu saiba perder a vontade de ter o que não mereço. Quero perder,
ainda, as forças que me impulsionam a realizar o que os outros esperam ou
aprovam, ao contrário, que eu tenha a sagrada coragem de escolher apenas o que
me proporciona paixão e criatividade, o que faz vibrar meus sentidos e
sensibiliza minha alma.
Que eu perca o medo de expor meus medos,
aceitando minha humanidade com mais alegria, encarando minha imperfeição como
um impulso para o aperfeiçoamento e não como uma desculpa para as desistências
diárias. Que eu perca a tendência a fechar meu mundo e esquecer que os outros também
precisam que meu mundo ajude a justificar o delas.
Que eu perca até mesmo a vontade de ser
melhor, quando isso não significar ser melhor para os outros. Que eu perca, finalmente,
minha surdez frente à música do meu coração, que pede mais poesia, mais
encantamento, mais aventura, mais espiritualidade e mais gratidão,
desperdiçando (e que enorme desperdício!) a alegria de participar da dança da
vida.
E assim, vivendo com pressa para perder,
que eu me sinta repleta de tudo. Desnudada e cada vez mais leve, que eu saiba
resgatar o melhor ser humano que há em mim, aquele que vive no agora, que
realiza e se aprofunda cada vez mais, que não troca a dignidade por nenhuma
moeda, que não prefere o conforto do comodismo, que não mente para parecer
agradável, que não fraqueja no caráter para se adequar às situações, que enche
o peito de ternura e de coragem e parte de encontro ao que acredita. Nessa
hora, colecionando todas essas perdas, só então saberei que saí ganhando.
Olá manu! Por tanto tempo na vida nos forçam a absorver essa ideia : Ser o melhor. Atualmente, também me encontro nesse estado que o seu texto belamente descreve. A medicina me fez isso, justamente por sair de um ambiente tão seguro, uma redoma de vidro que era o saudoso colégio e entrar nessa selva, que é fazer medicina em uma UF (vizinha inclusive, sou do PI). Uma esquizofrenia de percepções novas...que loucura. Mas graças a Deus, tenho aprendido cada dia a viver sem pressa pra ganhar. Chega, né?
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