quarta-feira, 16 de abril de 2014

Sobre paisagens internas


Sem saber o que fazer com tantos elementos dentro de mim, aprendi a fazer paisagens internas.

Vez em quando, careço de água, meu mar seca e percorro minha paisagem de clima árido, de ventos quentes e de vazios desmedidos. É o tempo em que os pés machucam-se em passos mais árduos e em que alma padece de mais alimento. É o tempo em que é preciso usar as lágrimas para plantar as flores. É o tempo em que nada se tem à vista, apenas um caminho aparentemente despropositado e que, invariavelmente, precisa ser percorrido sozinho.

Vez em quando, transbordo de água, inundo a vida e percorro minha paisagem de ventos amenos e de sentimentos abundantes. É o tempo em que os olhos da alma enxergam a vastidão de um oceano. É o tempo repleto de vida, de cores e de sons. É o tempo em que a imensidão é tida como riqueza de possibilidades e já não como fonte de medo e insegurança. É o tempo em que também nada se tem à vista, mas em que é uma delícia entregar-se ao nada, desmistificar o nada, acompanhar-se do nada.

E, assim, cada vez mais, viver parece uma contínua travessia e um longo passeio entre várias paisagens. Quando volto para uma paisagem, ela já não é a mesma, porque eu já não sou a mesma - o que vejo, o que sinto, o que toco, o que entendo modificou-se. Não sigo adicionando pesos na bagagem, prefiro deixar alguns deles para trás, pois, para andar entre tantas paisagens, prefiro estar cada vez mais leve. Não sigo com pressa para mudar de paisagem, sei que, se eu andar rápido demais, perderei as chances de ver as coisas simples e belas de cada caminho.

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