quarta-feira, 16 de julho de 2014

O tempo foge




Gostava de olhar o mar quando eu era criança. Olhar por olhar, sem filosofia ou entendimento algum. O vento ensinou-me a amar o silêncio, eu, que sempre me entendi melhor com as palavras. Admirava a imensidão, o não saber o que existia depois da linha. Tudo parecia ser infinito, inclusive o tempo, que fugia em pensamentos, sensações e uma conexão absurdamente simples e singela com a natureza. O mar sempre mudou minha ideia de tempo. Depois, não houve mais tanto tempo para olhar o mar. Cronometrado, apressado, atarefado, o tempo foge. Não parece mais com sentimentos, mas com números frios, que nos aproximam do fim de qualquer coisa. 

Tenho trocado o mar por montanhas, infinitos que se parecem. Alguns momentos me lembram que o tempo continua fugindo, mas, estranhamente, parece fazer o caminho de volta. Palavras, paisagens, silêncios que me levam de volta a momentos que eu amava, quando volto a ser criança com sua sabedoria de não precisar saber o que vem depois de um abraço ou de um suspiro. Começo a voltar a ser o que eu sempre fui e não me lembrava: atemporal. Sem um tempo certo nem cronologias exatas, sem pensar no que existe depois da linha do mar, depois do topo da montanha, depois da chuva, além das estrelas.

Já não tenho tanto medo de perder tempo, quando sei que o tempo não existe. Às vezes, uma eternidade habita um segundo, às vezes uma vida inteira segue deserta. 

Deixo que o tempo fuja. Só peço que ele leve junto o medo... 

Um comentário:

  1. Por que escrever tão lindo? Desconfio que é porque tu é linda mesmo! Grande beijo, minha amiga!

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