sábado, 13 de dezembro de 2014

Prefiro sentir






      É preciso percorrer muitos caminhos para aprender a aliviar-se. Só o tempo, no emaranhado de experiências e emoções incendiadas e espantosas, traz alguns entendimentos necessários. É difícil não ter medo dos riscos, porque todos nós queremos evitar a dor. O medo de doer confunde-se com o medo de viver. E o medo de viver, por vezes, confunde-se com a angústia profunda de se julgar incapaz de superar aquilo que dói, que incomoda, que modifica.
      Não quero ter  um coração humano que, embora conheça sua capacidade de criar belezas, encerra-se no conformismo de esperar por belezas prontas. Não quero esperar ser feliz quando alcançar fatos grandiosos e conquistas imponentes, quero a felicidade do agora, as revelações de amor das coisas pequenas, os sinais luminosos dos instantes de alegria.
      Garimpar a vida, como quem sabe que o caminho de busca pode não ter fim, mas vale os mistérios de ternura de cada passo. Recusar qualquer projeto que não fascine o coração e não faça da vida uma experiência de prazer e sabedoria. Não quero deixar meu barco parado no porto por medo de navegar nos mares revoltos da vida. Por vezes, as ondas quebrarão com mais força e será preciso resistir, mas logo os momentos de calmaria trarão os ventos amenos. Tudo sempre em constante movimento, nessa dinâmica contínua entre as turbulências e os vôos suaves.
      Ser capaz de superar a solidão, de fazer de mim mesma um abrigo seguro, uma companhia estimulante, uma fonte de coragem. Que me perdoe o racional, mas eu prefiro sentir. E sentirei até a última gota de sangue que correr no corpo, até o último suspiro de descanso, até a despedida do último ciclo. Mas saberei que fiz de mim o que acreditava, que não deixei a tela da minha alma em branco esperando ser por outro alguém pintada. E de todas as covardias inevitáveis, que eu evite ao menos uma: o desperdício imperdoável de, sentindo amor, não saber expressá-lo. Que cada um que encontre suas formas possíveis para o declarar. A palavra é a minha.


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