Por baixo de nossas
gravatas e nossas roupas impecavelmente engomadas, somadas aos nossos
acessórios da moda, morrem, diuturnamente, nossas maiores e mais genuínas aspirações.
Quantos escritores, músicos, esportistas, oradores, humanistas, revolucionários,
artistas e uma vasta lista de potencialidades perecem no nosso cemitério
interior, lamentando com sofreguidão nossa vida atarefada, regrada, polida e
previsível. Quantos elos nós, insistentemente, acrescentamos à corrente que
reprime e esmaga nossa liberdade!
E esse pensamento
está longe de ser a falsa demagogia dos que repudiam o sucesso financeiro
consequente às profissões mais aclamadas. Ao contrário, acho que o dinheiro
fruto do seu esforço e coragem de exercer seu talento é mais do que necessário
(a necessidade nem merece ser debatida), mas também bem vindo para proporcionar
uma vida digna e até mesmo para alimentar algumas pequenas vaidades inerentes à
natureza humana, que são até mesmo necessárias para impulsionar o crescimento
pessoal, desde que não sirvam de obra prima para alimentar as vaidades
destruidoras.
O que não dá é para
se entregar a atingir às perspectivas e destruir suas convicções. Não dá para
enxergar mérito na vitória sem sacrifício ou no pódio com medalha de ouro e não
de suor, de coragem e de uma boa dose de humildade. É mais confortável
desfrutar um castelo já levantado que ter o ideal de colocar o primeiro tijolo,
porém não é mais digno nem honroso.
Por isso, convivemos
com pessoas cada vez mais bem sucedidas e invejáveis, porém, paradoxalmente,
cada vez mais infelizes, vazias e emocionalmente despreparadas, que colocam os
aplausos como meta de vida. Por isso, também, Rubem Alves escreveu que “é mais
importante educar o coração que fazer musculação na inteligência”, defendendo,
ainda, que prefere as inteligências que iluminam a vida, por modestas que
sejam.
Se toda mentira se
disfarça de mãe para nos salvar, que tenhamos a coragem de nos perder em prol
de uma vida com mais verdade, com a multiplicidade de verdades que torna a
verdade absoluta uma grande tolice. Se todos são dotados de genialidades, que
tenhamos a audácia de apostar em nossos múltiplos talentos, não como quem se
apressa para cumprir um dever, mas com êxtase suficiente para encarar seu
direito de escolher o convívio só com o que proporciona prazer e alegria, só com
o que estimula a sabedoria e a criatividade.
"Se toda mentira se disfarça de mãe para nos salvar, que tenhamos coragem de nos perder em prol de uma vida com mais verdade, com a multiplicidade de verdades que torna a verdade absoluta uma grande tolice". ESSA FOI PERFEITA, ARRASOU!!!
ResponderExcluirO que achei mais legal foi você enfatizar que essa multiplicidade de talentos também mora em uma só pessoa. Sou médico e flautista, minha melhor decisão foi conseguir exercer as duas coisas as quais devoto muita paixão por inteiro. Que esse texto desperte os talentos adormecidos! Boa sorte.
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